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Colunas/REFLEXÕES LITERÁRIAS

TRÊS VOZES, UM SILÊNCIO: O ECO PROFUNDO DOS IRMÃOS KARAMÁZOV

Como a obra de Dostoievski nos desvela os abismos da alma humana

TRÊS VOZES, UM SILÊNCIO: O ECO PROFUNDO DOS IRMÃOS KARAMÁZOV
FOTO JONATHAN LIMA I LIVRO IRMÃOS KARAMÁZOV
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TRÊS VOZES, UM SILÊNCIO: O ECO PROFUNDO DOS IRMÃOS KARAMÁZOV

Como a obra de Dostoievski nos desvela os abismos da alma humana

Três vozes, um só silêncio: o que me dizem "os irmãos Karamázov"
Há escritores que não apenas nos comovem, eles nos desnudam. Fiódor Dostoievski não escreve para os olhos, escreve para o abismo.

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FOTO REPRODUÇÃO I FIÓDOR DOSTOIEVSKI 

 Sua obra não é paisagem, mas sim um terremoto. Um sismo lento, que começa no papel, atravessa o olhar e termina no mais secreto da consciência.
Na literatura russa, ele é uma montanha sagrada. No mundo, é um espelho partido, onde cada caco ainda corta e ainda brilha.

FOTO REPRODUÇÃO I ESPELHO QUEBRADO

Ler "Os Irmãos Karamázov" foi para mim uma experiência quase corporal. Não uma leitura, mas um espelho trincado onde vi, refletidos, meus próprios conflitos. Três irmãos, três vértices do  ser humano. Dimitri, Ivan e Aliocha. Eles não são personagens, mas vozes que me habitam, cada uma com sua temperatura, sua vertigem e sua forma de amar (ou quem sabe temer) o mundo. Eui não sou o único a sentir isso. Freud, ao escrever sobre Dostoievski, afirmou com precisão quase cirúrgica:

“Nenhum outro romancista, exceto talvez Shakespeare, jamais penetrou com tamanha profundidade nos abismos da alma humana como Dostoievski.”

FOTO JONATHAN LIMA I CAPA DO LIVRO 

Para ele, "Os Irmãos Karamázov" não é apenas um romance sobre culpa e justiça, é uma encenação brutal do parricídio como desejo arcaico e inconsciente. A morte do pai, tema central do livro, seria a realização simbólica de um conflito primitivo que habita a todos: amar e odiar o pai, ao mesmo tempo. Freud via em Dostoievski como um gêmeo sombrio da psicanálise, alguém que não analisava, mas encarnava.
E talvez por isso o romance ainda nos fira. Porque ele nos lê antes que o leiamos.

Três irmãos, três almas dentro da minha própria alma

Dimitri, o corpo que arde

Há em mim, quando me vejo, um homem que arde. Que deseja, que sente, que sofre. Que olha para o mundo com o mesmo espanto com que olha para um corpo amado. Dimitri é um desses homens em mim. Não sou feito só de razão ou fé, sou feito de carne, de suor, de impulso e de paixão.
Como ele, às vezes corro sem mesmo saber para onde. Amo sem medida, vivo com intensidade até o erro. Mas diferente dele, tento transmutar esse fogo e não apagá-lo, mas dar-lhe uma forma. O músculo, o treino, a busca do equilíbrio físico são a maneira que encontrei de honrar esse Dionísio interior sem que ele me destrua.

Ivan, o pensamento que corta

Há em mim um outro homem que pergunta demais. Que duvida. Que se irrita com as respostas fáceis. Que sente dor ao olhar o mundo, mas não consegue se anestesiar. Ivan é esse homem em mim. Carrego seus dilemas como se fossem febres noturnas, molhado de suor : e se Deus não existe? E se a beleza não basta ? E se a verdadeira justiça nunca se realiza  ?
A única diferença é que onde Ivan para, se paralisa, eu sigo em frente. Uso o pensamento como uma ponte, não como uma prisão. As perguntas me ferem, claro, mas também me despertam. Escrevo, caminho, estudo, respiro. Porque sei que a lucidez não precisa levar ao desespero. Pode levar ao ato, à escolha, ao gesto que afirma: ainda assim, vale.

Aliocha, a escuta que abraça

Há também em mim um homem que se ajoelha sem vergonha. Que ainda acredita na beleza do pequeno gesto, na escuta sincera, na paz que vem sem fazer barulho. Aliocha é esse homem em mim.

Sou feito de fé silenciosa, mesmo quando o mundo desaba. Acredito na gentileza como muita força. Na arte como um refúgio. No toque como uma linguagem. Quando escrevo, tento tocar os outros como Aliocha toca, não com argumentos, mas com presença humana. Ele me lembra que é possível ser forte sem ser duro. Que a doçura também é uma forma de resistência.

Em um só corpo, três batimentos

Na realidade não posso escolher entre eles. Eles não são personagens, são pulsações.
Dimitri me dá o sangue. Ivan me dá o pensamento. Aliocha me dá o sopro.
Juntos, fazem de mim um homem em processo. Um ser humano que tenta, que cai, que ama. Um homem que busca, com os pés na terra e os olhos voltados para dentro, um modo digno de habitar o próprio caos.

FOTO JONATHAN LIMA I APRESENTAÇÃO DO LIVRO

E no fim, talvez os irmãos Karamázov não sejam apenas uma história. É um aviso, um espelho e uma convocação.

   Quantos de nós seriam capazes de encarar o próprio reflexo se  não pudéssemos ver nosso rosto, mas três almas em conflito?

FONTE/CRÉDITOS: JONATHAN LIMA
Comentários:
JONATHAN LIMA - CORRESPONDENTE PARIS TVD

Publicado por:

JONATHAN LIMA - CORRESPONDENTE PARIS TVD

JORNALISTA, REPÓRTER CORRESPONDENTE FRANÇA, ATOR

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